“Os portugueses estão entre os dez povos mais pessimistas, de acordo com uma sondagem internacional recentemente divulgada.
O optimismo e o pessimismo têm um uso que é particular aos Portugueses. Uma das características essenciais do optimismo português: é que ele não visa nem o presente nem o futuro. O optimismo português faz-se sentir exclusivamente em relação ao passado. É retroactivo. Todos nós o sabemos e sentimos: no fundo, acreditamos que o passado vá melhorar para todos nós. Cada dia que passa, o passado torna-se mais desejável. Lá nunca chove, nunca inflaciona, nunca falta alegria. Logo que uma coisa passa para o passado, passa a ser a melhor de todas. Isto deve-se ao jeito enorme que temos para esquecer as misérias. Um português que tenha passado a mocidade fechado numa jaula infecta a pão e água, acusado de crimes que não cometeu, lembra-se da experiência como mais ninguém neste mundo. Passados uns anos, dirá qualquer coisa como
«Ah, eu nessa altura não tinha nada, mas era feliz. Tinha a minha salinha, o meu pãozinho, o meu cantarozinho de aguinha fresquinha, e ninguém me chateava, a não ser quando era espancado regularmente por uns tipos porreirinhos que tudo faziam para que eu não me maçasse».”
A Causa das Coisas, Miguel Esteves Cardoso